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Terapia Cognitivo - comportamental aplicada a infância e adolescência.
Ao longo da infância, a criança desenvolve suas habilidades físicas e cognitivas que estruturam toda sua capacidade de interagir consigo, com seus cuidadores e com o mundo. Aos poucos, com a maior exposição social e maturação neurológica, ela cria percepções mais complexas e a autoestima (crítica) começa a interferir na percepção de si e em suas relações sociais. A interpretação de seu mundo é composta progressivamente, um processo de maturação contínua. O aprendizado ocorre através dos modelos fornecidos pelos cuidadores pais ou responsáveis, pelo desempenho e feedbacks que recebem diariamente. E nesta relação de si com o mundo, percebe-se capaz ou menos capaz, diante os amigos e família e outros núcleos sociais.
Estes processos de pensamentos sobre sí mesmo, processos cognitivos contínuos, geram os autoconceitos e as crenças, pensamentos que o caracteriza e direciona as interpretações que o sujeito faz do mundo. As crenças funcionam como lentes, que guiam a percepção, recuperação, processamento e interpretação das informações recebidas minuto a minuto. As crenças são pensamentos rígidos e normalmente não realistas, que conduzem a criança ou o adolescente a processos difíceis de adaptação. Quando a resposta emocional ou comportamental, de uma criança ou adolescente diante um evento, é desadaptativa, pode-se esperar que seja fruto de uma visão de si mesmo que não o possibilita enfrentar as situações de forma flexível e satisfatória para si mesmo e contexto, como por exemplo: a criança que não consegue enfrentar as provas escolares, o medo pode estar relacionado a uma crença rígida de que ela não é capaz ou, então, tem medo de tirar menos que 10, pois se isso ocorrer quer dizer que é um aluno com péssimo rendimento. Desta maneira, a criança evita a situação devido a crença distorcida de si (de que só tem valor se tirar nota 10) e ao medo do fracasso (emoção desadaptativa) e consequências negativas que o fracasso pode gerar.
Na infância não podemos dizer que há um único determinante que seja a causa de quadros emocionais prejudiciais ou até mesmo de psicopatologias. Podemos dizer que o comportamento é multideterminado por fatores casuais (biológico, genéticos, interpessoais e ambientais) que interagem contribuindo para o desenvolvimento desadaptativo e não saudável. O termo desadaptativo refere-se a pensamentos, emoções e comportamentos que não auxiliam no enfrentamento de situações diárias de autocuidado, de situações sociais e acadêmicas que fazem parte do processo de crescimento de ao longo da vida. Assim, este termo estaria diretamente relacionado ao fato dos indivíduos se tornarem mais ou menos resilientes diante momentos de mudanças, conflitos ou tensão, ao longo da vida.
Há evidências empíricas de que as intervenções psicoterapêuticas sobre o processamento cognitivo individual (pensamentos e crenças) e comportamentos, bem como no manejo de fatores ambientais e até neurológicos e físicos, impactam diretamente nas respostas adaptativas e na saúde dos indivíduos. É neste contexto que a Terapia cognitiva-comportamental atua. Ela é composta por diferentes estratégias que visam modificações e reconstruções cognitivas individuais, bem como mudanças de fatores biológicos e ambientais eu carregam em si necessidades de alterações dos fatores precipitantes, ou seja, de fatores que colaboraram com o quadro não saudável da criança ou adolescente.
A primeira etapa do trabalho consiste em realizar o levantamento de hipóteses do quadro e queixa principal apresentada pela criança, adolescente e cuidadores. Este processo consiste em desenvolver um raciocínio de como o paciente chegou até o momento e quais os possíveis fatores que possivelmente desencadearam os problemas atuais. A investigação dos processos cognitivos, pensamentos e crenças, a respeito de si mesmo e do outro, também é realizada. Esta primeira etapa do trabalho fornece dados para formularmos a Conceitualização do caso, que permitirá discutir com o paciente e família a respeito do quadro atual, bem como possibilitará desenvolver as metas do trabalho psicoterápico.
O processo psicoterápico consiste em etapas fundamentais e as quais ocorrerão através de técnicas e materiais apropriadas para a demanda e idade do paciente. Dos manejos ambientais, o terapeuta deve oferecer suporte e orientações à família, escola e profissionais envolvidos no cuidado e educação da criança ou adolescente.
Portanto, o trabalho do terapeuta necessita ser fruto de um vasto conhecimento, focado no desenvolvimento humano, psicopatologia e em Terapia cognitivo- comportamental. Contudo, outras habilidades compõe o contexto terapêutico: o terapeuta deve ser empático (atender as necessidades do paciente e família), flexível e dedicado ao constante planejamento do processo, o que solicita adaptações de objetivos, técnicas e materiais. No dia a dia, os pacientes e família devem ser envolvidos no trabalho, participar dos objetivos, bem como receberem feedbacks positivos e emponderados a respeito do que deu certo durante o processo. Assim, em um processo contínuo de aprendizagem, a psicoterapia pode contribuir para o desenvolvimento saudável das crianças, adolescentes e famílias.
Indicação de leitura:
- Robert Friedberg. A Prática Clínica de Terapia Cognitiva com crianças e adolescentes. Artmed, 2007.
- Carmem Beatriz Neufeld. Terapia Congitivo-comportamental Para Adolescentes. Artmed, 2018.

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